Danny Chantilly
.:.O monólogo.:.
Voltei já no sábado à tarde de Saõ Paulo, a casa foi vendida a grana que entrou é boa, ainda não decidi o que vou fazer com ela, acredito que primeiramente comprar uma nova casa aqui em Campinas mesmo, estou pensando em comprar um carro popular com a outra parte, mas nada decidido ainda.
O bom de ter ido para lá na sexta é que tive tempo para pensar e pensar muito, percebi o quanto eu sou mal educada, ansiosa e precipitada, digo isso não só em minha vida amorosa, na profissional e familiar também, tanto que em vez de esperar minha mãe convencer meu pai me deixar estudar em São Paulo não , fui e fugi de casa. Percebi que preciso refletir antes de agir e ouvir antes de falar, mas isso com o tempo eu consigo.
Cheguei e fui para o hotel. Nossa! Eu até havia esquecido que estava em um hotel e ia em direção da casa da mãe dele, lembrei e mudei o caminho. O rapaz da recepção me entregou um envelope, subi, tomei um banho e só então abri o envelope, era um bilhete do próprio me pedindo para ligar pra ele assim que chegasse, foi o que fiz.
- Cyber Café Chantilly Luana boa noite!
- Boa noite Luana! Sou eu Danny, você pode por favor me tranferir para o ramal do Guilherme?
- Claro! Só um minuto...
- Alô!
- Oi! Você me pediu para eu te ligar...
- Danny! Isso mesmo eu queria falar com você, pode ser hoje ou você prefere outro dia?
Pensei por alguns segundos, mas achei que seria melhor resolver tudo isso logo
- Tudo bem. Onde?
- Pode ser aqui mesmo.
- Não, qualquer lugar menos aí...
- Ok eu passo aí pra te pegar daqui a meia hora.
- Estou esperando.
Ele chegou, cheiroso e elegante como sempre, educado, abriu a porta para que eu entrasse e deu um sorriso gentil. Eu estava pensando o que estaria por vir, antes de sair havia prometido a mim mesma tentar ouvir com atenção cada palavra que ele proferisse, tentar agir normalmente, mas isso seria difícil.
Chegamos em um Pub tranquilo e aconchegante, com música ao vivo, uma mulher cantava Jazz acompanhada por um saxofonista, uma luminosidade média dava um ar de sossego ao lugar, mesas bem arrumadas com arranjos florais de muitas cores, alguns discos pendurados na parede e algumas caricaturas de grandes músicos do estilo. Ele escolheu uma mesa próximo à janela do lado esquerdo, algumas pessoas conversavam de maneira discreta, um casal em outra mesa se beijava e o som de aplausos no fim de cada música.
Ele começou a falar e eu a ouvir. Me contou sobre a ex, sobre um passado que eu não conhecia e que ele não contou quando estávamos juntos, como se conheceram, como ele a amava e viviam um amor maravilhoso durante dois anos.
Eu me sentia estranha ali ouvindo tudo aquilo como se fosse apenas um alguém distante que chegou para deixá-lo desatar um nó enorme que estava em sua garganta há muito tempo, com o Jazz tocando me sentia em uma trilha sonora de um filme.
Me falou muitas coisas e eu estava calada, parecia mais um monólogo. Me falou como de uma hora para outra, ele perdeu o chão quando ela disse que ia embora, sem dar nenhum motivo se não o de que precisava respirar e assim como entrou em sua vida saiu, de repente, sem porque.
Falou que ela voltou dois dias depois que fui para Minas, que explicou os motivos, que nada contou antes por achar que ele não ia entender, por ter tido medo de perde-lo. Mostrou para ele documentos desse um ano em que ficou internada fazendo um tratamento de uma doença quase crônica, algum tipo de esquisofrenia, mas que agora ela estava curada. Me falou tudo isso olhando nos meus olhos, como sempre faz, me pediu desculpas, disse que sentia muito, que gostava muito de mim, mas que o que ele sentia por ela era muito maior e que só voltaria pra ela depois de resolver tudo comigo e foi duro ouvir isso dele.
Ele foi sincero, eu é que havia julgado mal, eu o amava e sabia que era o fim sim, mas não cabia mais sofrer, eu sorri um sorriso meio amargo, ele me olhou depois de uma pausa e disse:
- Você não vai dizer nada?
A cantora começou a cantar April in Paris de Billie Holliday, então levantei-me olhei pra ele e disse:
- Vamos dançar?
Ele sorriu e saímos para a pista, beijeio-o com paixão, sabendo ser um dos últimos beijos que daria nele e num ato meio inpensado eu sussurrei no ouvido dele num misto de agonia e satisfação.
- Faz amor comigo só mais esta noite?
- Eu conheço um lugar ótimo...
A música parou e saímos em meio aos aplausos, aplausos esses que eu fingi fosse para o fim do nosso curto amor...
Blogado por Coisas De Mulher às 16:58